Sob coordenação do Instituto Gaia, no dia 13 de Julho de 2022 foi realizada a oficina “O Pacto pela Restauração do Pantanal” no Simpósio de Áreas Úmidas dentro do XIII Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia. Sob mediação de Angelo José Rodrigues Lima - Coordenador de Mobilização Social do Pacto pela Restauração do Pantanal no âmbito do Projeto Restaura Pantanal (executado pelo Instituto Gaia) e Wisllene da Silva Souza - membro do Instituto Gaia e dos Jovens da Reserva da Biosfera do Pantanal, que destacou a importância de ações que visam a restauração do bioma.
Nesse sentido, “O Instituto Gaia faz um convite para as instituições e organizações que representam o poder público, a sociedade civil, as Comunidades Tradicionais e Indígenas, as Universidades, as instituições que representam os pequenos, médios e grandes produtores rurais, empresas privadas, Comitês de Bacias, Assembleia Legislativa, Governos estaduais e municipais, enfim, toda a sociedade do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para construir o Pacto pela Restauração do Pantanal”. Juntos iremos construir a metodologia e a governança, discutindo de forma democrática os caminhos para a sustentabilidade, metas e ações que beneficiem as atividades da região.
Na oficina estiveram presentes diversas entidades, instituições e representantes estritamente conectados a ações de proteção e restauração do Pantanal: FORMAD (Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento); Instituto Adriana Moura; REDE de Comunidades Tradicionais Pantaneira; ICV (Instituto Centro de Vida); International Rivers; LABOAA (Laboratório de Botânica Aplicada à Agroecologia); Associação Brasileira de Pecuária Orgânica do Mato Grosso do Sul; Instituto Federal de Sergipe; COOPERSOOL (Cooperativa de Consumo Solidário e Sustentável); APIC (Associação Produtiva Indígena Chiquitana); WWF Brasil; UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso); UNEMAT (Universidade do Estado do Mato Grosso); Engajamundo; FEPOIMT (Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso); Instituto Gaia; Consórcio Nascentes do Pantanal; Gabinete do deputado Lúdio Cabral; PPGCA/UNEMAT (Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais); Rede de Empreendimentos da Economia Solidária e Produtos Sociobiodiversidade (REESOLBIO/MT); STTR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto Esperidião); Superintendência de Turismo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente; técnicos da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e; ICMBio (Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade).
O conceito de Pacto foi apresentado a todos os participantes que estavam no evento de forma presencial e virtual, por meio de um folder explicativo que demonstrou aos convidados os principais objetivos do projeto. Nele tinha acoplado um Ofício de Adesão, para que os que simpatizassem com a proposta assinassem. E assim, com o folder em mãos, algumas dúvidas surgiram.
Cyntia Santos, WWF Brasil, questionou o porquê de um Pacto específico para a Restauração do Pantanal, uma vez que já há o Pacto das Cabeceiras. Em resposta, Ângelo Lima ressaltou que o Pacto pela Restauração do Pantanal é uma ação ampla, que envolve os atores, o meio ambiente e seus recursos, ou seja, todo o Pantanal para toda a Bacia do Alto Paraguai.
Solange Ikeda Castrillon, professora da Unemat e membro do Instituto Gaia, complementou que a necessidade do pacto surge da importância de uma metodologia construída conjuntamente, com todas as etapas dialogadas entre todos os grupos sociais e que mais do que proteger as cabeceiras, deve-se proteger a planície também, que infelizmente em 2020 foi severamente impactada pelos incêndios.
José Aparecido Macedo, que trabalha com restauração de áreas e principalmente nascentes, comentou sobre sua experiência e destacou a importância da criação de um Pacto em Defesa do Pantanal, seguido pela fala de Wisllene da Silva Souza, jovem ativista ambiental que ressaltou a necessidade de restaurar áreas degradadas.
Clovis Vailant, Coordenação Colegiada da REESOLBIO e membro do Instituto Gaia, disse que a primeira tarefa é a de ter clareza sobre com qual Pantanal queremos trabalhar/restaurar, pois há o saudosismo do Pantanal de um passado recente: o das grandes fazendas de gado. Ele salientou que o “restaurar” vai muito além da vegetação.
Cláudia Sala de Pinho, Coordenadora da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira, chamou atenção para a importância da inclusão dos povos tradicionais na construção do Pacto pela Restauração do Pantanal, uma vez que geralmente as pessoas que vivem na terra são excluídas de debates que geram impactos em suas comunidades.
Maria Graziele Surubi Peteá da Terra Indígena Portal do Encantado fez uma fala bastante emocionada de quando o córrego secou, impactando as quatro aldeias presentes na terra indígena. Disse que duas aldeias estavam com um projeto de reflorestamento e apesar da falta apoio, conseguiram reflorestar e ter o rio de novo.
Ficou claro com as falas de Maria Graziele Surubi Peteá e Aguinaldo Muquissai Massavi, ambos da etnia Chiquitana, após seus depoimentos, como tiveram sua qualidade de vida modificada pela ganância do agronegócio.
Fernando Ferreira de Morais, Prof. Dr. da UFPB, membro do Instituto Gaia e coordenador do LABOAA (Laboratório de Botânica Aplicada à Agroecologia) disse que o conhecimento deve ser valorizado, tanto o empírico quanto o científico em detrimento do negacionismo. E sugeriu que “devemos trabalhar com turismo de base ecológica comunitária; práticas agrícolas adaptadas ao bioma Pantanal; com relação a clima e retenção de carbono, acrescentando o reflorestamento com espécies nativas; em resiliência, a responsabilidade ambiental e agroecologia em parceria da universidade com as comunidades tradicionais”.
E como perspectiva, segue um trecho do Pacto da Restauração do Pantanal:
“Em nossa visão, é fundamental incorporar o ser humano no conceito de restauração do Pantanal para inclusive manter o ser humano na região, seja na área urbana, seja na área rural. Um processo de restauração incorpora uma visão social, ambiental e econômica, valorizando as melhores práticas e as atividades que colaboram para o funcionamento do ecossistema pantaneiro. Nosso sonho é constituir um Pacto pela Restauração do Pantanal que para além de contribuir com a sua conservação, garanta os serviços ambientais oferecidos pela floresta e inclusive gere emprego e renda”
Em caso de quaisquer dúvidas ou interesse em participar do Pacto pela Restauração do Pantanal entre em contato conosco pelo e-mail pactorestauracaopantanal@gmail.com e nos envie uma mensagem manifestando o desejo de participar desta construção.
Por Maura Palocio, Uirandi Artioli, Wisllene Souza e Bethânia de Carvalho, Instituto Gaia